HOMILIA
PARA O PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO – C
Jr 33,14-16; 1Ts 3,12 – 4,2; Lc 21,25-28.34-36
Introdução
Caros irmãos e fiéis! Celebramos o I Domingo do
Advento, começamos um novo Ano Litúrgico, iniciamos a contagem regressiva dos
últimos 29 dias do ano 2012.
Nestes últimos dias do ano fica mais evidente para nós
um dos mistérios da nossa existência: o mistério do tempo! Os segundos, os minutos, as horas, os dias,
os meses, os anos, a vida, o tempo.
E assim
vai se sucedendo em nossa vida uma seqüência de fim e começo. Com razão disse
um jovem compositor falecido: o tempo não pára! (Cazuza). Já um autor
pré-cristão – um pagão – disse que temos necessidade de cuidar bem de cada
hora, caso contrário, ele, o tempo, escorrerá entre os dedos
(Sêneca).
Qual o sentido, então,
dessa roda viva do tempo que escapa ao nosso controle? Para o cristão o tempo é
um dom precioso, pois sem ele nada se faz, nele cumprimos nossa missão, nele e
com ele caminhamos para o último/grande encontro da nossa jornada.
Já se disse que no tempo, o
cristão é o homem do oitavo dia. Ele trabalha, aproveita o tempo, também
no final de semana descansa e faz
lazer. Mas, para ele, cada fim de semana é um pequeno fim, que aponta para o
Grande Fim, o encontro com o Senhor.
Tal
encontro definitivo é, de certo modo, antecipado pela Eucaristia, na Santa Missa
dominical, nosso encontro semanal com o Senhor. O domingo, Dia do Senhor,
é a ocasião de fecharmos o olhar ao que é temporal, elevá-lo às coisas do alto,
para assim darmos sentido à nossa existência e direção ao nosso caminhar no
tempo!
1. O Ano Litúrgico
A Igreja inicia hoje seu
novo Ano Litúrgico. Inspirando-se na
experiência do povo do AT, que ao longo do ano celebrava os benefícios de Deus
em seu favor – sobretudo
a libertação do Egito, a marcha pelo deserto e a Aliança no Sinai. A consciência
cristã assumiu a forma das festas do AT, dando-lhes, porém, novo conteúdo e sentido, organizando em 3 ciclos
celebrativos os mistérios da vida de Cristo: Advento/Natal/Epifania – o
mistério do Natal; Quaresma/Páscoa – o mistério
da Paixão, Morte e Ressurreição; Tempo Comum – a vida de
Cristo, em especial, Sua Vida Pública, aplicada ao nosso dia-a-dia.
Tal ‘ciclo anual’, não de
12 meses, pois o ano da Igreja não coincide com o ano civil, é enriquecido pela
celebração das festas dos Santos e
da Bem Aventurada Virgem Maria.
2. O Advento
Iniciamos o novo Ano
Litúrgico celebrando o I Domingo do Advento (= vinda; chegada). O Advento comporta duas etapas: a primeira – vai até o dia 16/12, e nos recorda a vinda gloriosa e
definitiva de Cristo ao mundo, para finalizar a história. É a chamada Parusia
ou a segunda vinda de Cristo no fim dos tempos.
A segunda etapa é
preparação imediata para a celebração do Natal, etapa vivida na chamada Semana
Santa do Natal, período entre os
dias 17 e 24 de dezembro, e que visa preparar-nos para o Natal propriamente
dito.
3. A Liturgia da Palavra
As leituras que acabamos de ouvir ilustram justamente a
primeira etapa do Advento, falam da vinda futura do Senhor, Ele que trará a
redenção definitiva.
3.1.
Na Primeira Leitura
O Profeta Jeremias diz que Deus virá a Israel para
trazer-lhe bens futuros, e assim fará ressurgir a casa de Davi destruída. O profeta,
deste modo, anima o povo antigo que se sentia guiado pelo Senhor Deus e
esperava vigilante sua vinda, e com ela seu socorro.
Interessante que Jerusalém receberá o mesmo nome do
seu Salvador: Senhor-nossa-justiça,
isto porque, o Senhor de justiça, ao visitá-la, conferirá paz e bens sem fim.
3.2.
O Evangelho
Tirado de São Lucas – aliás, no ano C predominarão os
textos de São Lucas na liturgia de cada domingo – descreve a segunda vinda de
Jesus, e mostra Ele mesmo falando dos sinais que a precederão: sinais no sol,
nas estrelas; angústias nas nações, barulho no mar e nas ondas; homens
desmaiados e as forças do céu abaladas... Então
eles verão o Filho do Homem vindo numa nuvem com grande poder e glória!
Contudo, Jesus, para não apavorar ninguém, já que este
dia é imprevisível, apresenta também o modo de aguardarmos sua vinda futura e
gloriosa: ficai atentos e orai, a fim de
terdes força e para ficardes de pé diante do Filho do Homem.
4. Reflexão / Mensagem
Caros irmãos e fiéis, o
mesmo Jesus que veio ao mundo na
plenitude dos tempos fará nova entrada
neste mundo no fim dos tempos, como Rei e Soberano de todos os povos – a partir
daí terão início um novo tempo, uma nova era, um mundo novo.
Quando falamos da segunda vinda de Jesus, algumas
perguntas são inevitáveis: quando
virá, onde se dará, como será, e para que voltar uma segunda vez?
Ouçamos as respostas de Jesus: Quanto àquele dia e hora
ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai (Mc 13,32). O ‘como’ e o ‘para que’
Ele apenas diz que virá com poder e glória, para reunir os que Deus escolheu
(Mc 13,27).
Quem
serão os escolhidos, os eleitos de Deus?
Somos nós, que nos tornamos seus filhos prediletos, quando Ele decidiu
criar-nos por amor e, muito mais, por ocasião do nosso batismo, quando
recebemos a graça santificante, que nos fez filhos no Filho. Não fomos criados para a morte – esta não
terá a última palavra sobre a vida! Deus criou-nos para a alegria, a felicidade e, sobretudo, para participarmos
do seu convívio na Pátria Celeste.
Por isso, vigiemos à espera do Senhor em meio às incertezas da
vida presente. Modelos de espera
para nós são a virgem sábia do evangelho (Mt 25,1-13) e a esposa do Ct (5,2): a 1ª dorme, mas sua lâmpada continua acesa; a 2ª, também dorme, mas o
coração vigia. Que bela
imagem: duas esposas vigilantes aguardando o Esposo fiel no coração da noite!
Vale ainda notar que a Sagrada Escritura fala não só da
vinda do Senhor no fim dos tempos, mas fala também da Sua vinda diária a cada
pessoa: Eis que estou à porta e bato; se
alguém ouvir a minha voz e abrir a
porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo (Ap 3,20).
Sim, o Senhor quer cear conosco.
Aliás, Ele já ceia! Em cada Santa Missa Ele vem aos nossos corações,
para ser Ele mesmo o alimento que comunica vida: Se não comerdes a carne do Filho Homem e não beberdes o seu sangue, não
tereis vida em vós (Jo 6,53). Você que está aqui hoje, faça de cada Eucaristia
uma ocasião de abrir a porta do seu coração para Jesus entrar, fazer morada,
comunicar sua vida: Eu vim para que tenham vida em abundância (Jo
10,10b).
Estamos
próximos de mais uma vinda de Cristo no Seu Natal. É
certa a vinda desta Criança, que adulta revolucionou a história, dividiu o
tempo, trouxe-nos salvação e paz!
Nesses dias é praxe dar, receber ou mesmo esperar um
presente; justo igualmente adquirir algo para o lar, satisfazer uma real
necessidade. Contudo, saibamos acolher o melhor
Presente, o Menino
Jesus! Presente dado com tanto carinho, Presente de um Pai compadecido que
oferece Seu Filho como Luz para o mundo que vivia na escuridão.
As árvores de Natal já se espalham e enfeitam
os lares e as cidades – infelizmente, a maioria tem muita arte, poucos símbolos
cristãos. A árvore da Lagoa, ontem à noite inaugurada, ficaria mais bela se
aparecessem de vez em quando Maria e José contemplando o Menino-Luz recém
nascido no coração da noite mais feliz da história.
Elas
querem lembrar que Cristo é a verdadeira Árvore: árvore viçosa, nascida da raiz
de Deus, para trazer ao mundo frutos de alegria, esperança e paz. Vendo as árvores
e as luzes pelos lugares, lembremo-nos da verdadeira Luz: Eu sou a
luz do mundo... (Jo 8,4).
Conclusão
Concluamos acolhendo uma recomendação de São Bernardo
para estes dias: Convém que o enfermo, se
não pode ir tão longe ao encontro do médico, ao menos procure erguer a cabeça e levantar-se quando ele chegar. Não te é necessário, ó homem, atravessar
mares, penetrar nas nuvens ou transpor montanhas. Não é longo o caminho que te
é mostrado: corre ao encontro do teu
Deus dentro de ti mesmo! (Sermo 1 in Adventu Domini).
Louvado seja Nosso Senhor
Jesus Cristo!
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